quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Compulsão Alimentar Noturna

O dia transcorre tranqüilamente, mas para algumas pessoas comer não importa muito. Café da manhã, almoço e jantar bem simples, quase uma dieta rigorosa! É somente quando cai a noite, que os portadores da síndrome da alimentação noturna sentem um desejo imperioso de levar (bastante) comida à boca.

O que caracteriza essa síndrome é justamente o hábito das pessoas comerem o equivalente a 50% da ingestão alimentar total diária após as 19 horas, quando o metabolismo é mais lento (veja infográfico). Os pacientes apresentam também perda de apetite pela manhã, têm problema de insônia e de sono fragmentado, levantando-se uma ou mais vezes da cama.

“Esses episódios noturnos de ingestão alimentar são diferentes dos vividos por quem tem compulsão alimentar. Quem tem a síndrome noturna faz pequenos lanches à noite, antes ou após iniciado o sono, e tem a sensação de que sem esses lanches não seria possível dormir”, descreve o psiquiatra Alexandre Azevedo, coordenador do Grupo de Estudos de Comer Compulsivo e Obesidade (Grecco), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (FMUSP). A ‘necessidade’ de comer, nesse caso, é exclusivamente noturna e durante o dia o indivíduo tem uma ótima relação com a comida. Acreditase que a síndrome afeta 1,5% da população em geral e 8% dos obesos.

Efeitos no sono e no peso

O problema gera dois principais efeitos. Um deles é a insônia, levando a distúrbios em cascata, como fadiga, sonolência, dores de cabeça, irritabilidade, descontrole emocional, perda de atenção e concentração, prejuízo no rendimento profissional. O outro é o ganho de peso e conseqüências associadas, como hipertensão, diabetes, elevação de colesterol e triglicéride e muitas vezes intoxicação alimentar. “O problema maior é o sofrimento psíquico, acompanhado de tristeza e angústia, pelo fato do paciente não conseguir manter um bom padrão de sono nem evitar os episódios de lanches noturnos”, relata o médico Azevedo.

O portador da síndrome noturna até reconhece que seu comportamento alimentar é problemático, mas raramente busca tratamento especializado. Há um forte componente emocional associado à manifestação do distúrbio da compulsão noturna como válvula de escape, diz João César Castro Soares, endocrinologista e nutrólogo pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): “muitas vezes a pessoa come à noite para se livrar das críticas por comer exageradamente e também como uma forma de esconder os problemas que o levaram àquela compulsão”, afirma o médico.

Como reconhecer

Para caracterizar a síndrome, é preciso que haja o que os médicos chamam de ‘recorrência noturna’ por pelo menos três meses. Segundo o médico João César, há diversos quadros de ‘compulsão’ já identificados e diagnosticados. Os principais incluem a concentração das refeições no período noturno e — a mais grave e preocupante — a que leva a pessoa a interromper o sono para aplacar a fome que a consome. “Esses pacientes tendem a ficar cada vez mais obesos se não buscarem tratamento”.

O coordenador do Grecco, Alexandre Azevedo, esclarece: outros lanches noturnos esporádicos, como aqueles para aliviar uma ‘dor de estômago’ ou por um estado de hipoglicemia, comum aos diabéticos, ou por dificuldades para dormir, são relativamente comuns e não entram na classifi- cação da compulsão noturna para comer. Os médicos dizem que não há evidências claras de quais seriam os ‘gatilhos’ que desencadeiam a síndrome, mas eventos estressores geradores de ansiedade, em um indivíduo predisposto, podem certamente desencadear o problema.

Tratamento ainda engatinha

Por se tratar de um problema ainda em estudo, sem critérios diagnósticos bem definidos, não há consenso sobre tratamento. Em geral, são usados remédios, pois a terapia nutricional ou a psicoterapia tem pouco impacto sobre os sintomas. Os pacientes não respondem aos indutores do sono ou a medicamentos para a ansiedade. Na falta de estudos prévios, os médicos optam pela escolha do tratamento com base no relato de cada caso e em sua experiência clínica.

Normalmente, a preferência recai sobre antidepressivos que agem para garantir maior regularidade do padrão de sono e adequação da saciedade, atuando na compulsão para comer. Os sintomas podem se estabilizar, mas, segundo o psiquiatra, não é possível ainda falar em resposta definitiva ou a longo prazo, pois, como os mecanismos desencadeadores da síndrome ainda são desconhecidos em sua totalidade, os sintomas podem retornar.

“A orientação normalmente é também dietética, com a introdução de alimentos no jantar que dêem maior sensação de saciedade”, explica João César.


Uma das razões para o ganho de peso

Segundo o psiquiatra Alexandre Azevedo, um estudo que avaliou o perfil neuroendócrino destes pacientes observou que os portadores da síndrome alimentar noturna apresentavam níveis inferiores de leptina durante os períodos noturnos e diurnos, quando comparados a indivíduos sem o problema. A leptina é um dos neuromoduladores envolvidos no controle do apetite e funciona como um sinalizador de saciedade, ou seja, a sua liberação equilibrada permite ao indivíduo perceber-se saciado de forma adequada. Estudos associam a resistência à ação da leptina como um ‘facilitador’ da obesidade.

“Sempre que engravidava, engordava muito. Cheguei a pesar 100 kg (com 1,58 metro de altura). Passei a tomar remédios para emagrecer e reduzi meu peso para 57 kg. Há três anos, perdi o controle. Não conseguia dormir e ia para a geladeira. Comia o que via pela frente, até um pudim inteiro. A comilança me fazia dormir. Comecei a engordar de novo e o remédio já não fazia efeito. Não conseguia mais dar aulas, me descontrolava à toa. Fui encaminhada para tratamento à base de tranqüilizante e remédio para diminuir a compulsão alimentar. Hoje, durmo a noite toda e mantenho meu peso na faixa dos 57 kg.

Rosemary Chelotti, 54 anos, professora

“Ao acordar, tomo apenas uma xícara de café. Almoço e janto pouco, mas depois das 21 horas tenho muita fome. Na verdade, sempre fui viciado em comer à noite e de madrugada, geralmente lanches fartos e refrigerante. No ano passado, cheguei a pesar 154 kg (tenho 1,80 metro) e fiquei em um spa para me recuperar. No último ano, passei a fazer musculação e aeróbica e hoje peso 130 kg. Mas ainda não consigo controlar a vontade de comer à noite. É só levantar para ir ao banheiro que sinto vontade de ir à geladeira. Por isso, eu resolvi me inscrever no Hospital das Clínicas para começar a me tratar.”

Luiz Paulo, 44 anos, fisioterapeuta

Desregulando o nosso relógio interno

À noite, o metabolismo do organismo cai drasticamente. entenda o porquê

Durante o dia, os aprincipais hormônios ativos são o cortisol e a adrenalina, cujo estímulo é liberado no cérebro. É por meio deles que ocorre o equilíbrio entre a produção de energia necessária ao funcionamento do corpo, enquanto há trabalho físico e mental constantes. Outros hormônios envolvidos são os tireoideanos, que têm a função de regular o metabolismo. Quando escurece, o nível desses hormônios cai para adaptar o organismo ao menor nível de atividade. Nesse período, tudo o que é ingerido é facilmente incorporado e estocado no tecido gorduroso. Isso porque o sangue se concentra no aparelho digestivo, em vez de estar diluído sob a ação dos hormônios moduladores que atuam durante o dia. Assim, devemos optar por alimentos leves à noite. Carboidrato, açúcar, gordura e fritura elevam o depósito adiposo, sem saciar a fome.

O Processo Passo-a-Passo:
1. À NOITE, o organismo desacelera
2. O CÉREBRO REDUZ OS COMANDOS para liberar os hormônios (cortisol e adrenalina) que garantem a energia vital para as atividades durante o dia
3. HIPÓFISE
4. A HIPÓFISE ‘AVISA’ PARA A TIREÓIDE baixar a produção hormonal, o que faz o metabolismo ficar mais lento
5. TIREÓIDE
6. O SANGUE SE CONCENTRA no aparelho digestivo, um dos sistemas que precisa de energia — mesmo quando estamos em repouso
7. OS ALIMENTOS SÃO RAPIDAMENTE ABSORVIDOS e estocados no tecido gorduroso. Por isso é mais fácil ganhar peso com refeições noturnas

TRATAMENTO

A compulsão alimentar noturna ocorre, freqüentemente, em pessoas que até têm alguns hábitos alimentares adequados durante o dia, mas que à noite comem sem controle, principalmente alimentos ricos em gordura e açucar. Muitas dessas pessoas justificam ter insônia caso não alimentem-se á noite.
Isso ocorre ou por problemas emocionais ou pela falta de disciplina alimentar, por isso os cuidados deverão ser tanto psicológicos quanto nutricionais.
Há também aquelas pessoas que por trabalharem muito durante o dia, deixam a alimentação para segundo plano, e em função disso alimentam-se excessivamente à noite. Mesmo com um dia muito agitado programe-se para realizar as refeições corretamente.
Outra situação comum é a de pessoas que usam o horário das refeições para irem ao banco, à ginástica ou fazer outro tipo de atividade. A conseqüência negativa disso é a compulsão alimentar noturna associada à falta de atividade física. Em geral essas pessoas ocupam-se bastante no decorrer do dia, mas à noite sentem-se ansiosas e solitárias, fazendo da comida e da geladeira suas companheiras e a solução de seus problemas.
Por tudo isso, deve-se procurar respeitar sempre os horários das refeições, alimentando-se de 3 em 3 horas, ou no máximo de 4 em 4, evitando sempre a sensação de fome.
Deve-se realizar o café da manhã, almoço e jantar, e nos intervalos das refeições inclua o lanche da manhã, da tarde e noite...
É preciso fazer um lanche leve antes de dormir que pode ser um iogurte diet, um copo de Ades, queijo magro... Ainda assim se sentir fome, tome água!

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