sexta-feira, 13 de maio de 2011

Suplementos Naturais para Emagrecer

Emagrecer a qualquer preço parece ser o lema dos brasileiros. É o que se percebe nas informações contidas nos relatórios divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) nos últimos anos. Em 2007, o Brasil era o país que mais consumia inibidores de apetite no mundo e, no período entre 2001 e 2004, o uso desse tipo de medicamento dobrou. No início de 2010, as estatísticas mostraram pequena diminuição desse quadro, mas a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) noticiou que foram vendidas três milhões de toneladas desses produtos, só em 2009.

Apesar de o uso de remédios em obesos seja clinicamente indicado, eles podem se transformar em grandes vilões por trazerem graves efeitos colaterais. Além disso, há o risco de automedicação.

Com o cerco cada vez mais forte aos inibidores de apetite (sibutramina e os derivados anfetamínicos), a esperança recai sobre os suplementos naturais, feitos de plantas que prometem ajudar no emagrecimento.

No mercado há uma grande variedade de produtos como Centella Asiática, Óleo de palma e Garcínia que possuem indicações, em geral, idênticas aos sintéticos: modular a fome e potencializar a perda ou o controle do peso.

Em tese, todo alimento ou parte de um alimento capaz de proporcionar benefícios médicos e de saúde são considerados nutracêuticos. O termo abrange não só os suplementos dietéticos, bem como os produtos herbais, nutrientes isolados, entre outros.

Na opinião do endocrinologista Bruno Geloneze, coordenador do Laboratório de Investigação em Metabolismo e Diabetes (LIMED) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), a grande vantagem dessas substâncias, desde que cientificamente testadas, é que elas são mais seguras e podem ser usadas por tempo indeterminado, atuando em sintonia com todas as outras ações que levam ao controle da doença. “Elas são dotadas de uma eficácia que não pode ser reconhecida como exuberante, mas é consistente. O grande equívoco das pessoas é pensar que podem utilizá-los isoladamente”.

Mas a endocrinologista Thalita Bittar, membro do departamento de Transtornos Alimentares da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), afirma que a maioria dos suplementos naturais não possuem estudos clínicos que comprovem benefícios ou descrevam efeitos colaterais. “Como não existem dados científicos sobre o real mecanismo de ação, segurança, riscos, limites de tempo de uso, contraindicações e interações medicamentosas, a SBEM não recomenda o uso desse tipo de produto”.

A nutricionista Isabel Jereissati, responsável pelo grupo de estudos do Setor de Nutrição do Núcleo Integrado de Atenção à Saúde da Mulher, da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, concorda. Para ela, todo cuidado é pouco na escolha desse tipo de nutracêutico, pois muitos deles contêm, além das ervas e nutrientes, anfetaminas, hormônios, laxantes e diuréticos, que até estimulam a perda de peso rápida, mas podem ser a causa de inúmeras alterações metabólicas. “O outro senão é que, interrompido o consumo, o peso é recuperado”, comenta.

Apesar disso, fala Caroly Cardoso, Farmacêutica Industrial e Coordenadora do Curso de Especialização em Plantas Medicinais e Fitoterápicos da Faculdade Oswaldo Cruz (FOC) “Várias substâncias podem ser utilizadas, desde que sejam aprovadas pela Anvisa. E existem associações de plantas medicinais com várias funções”. Cardoso cita como exemplo o Plantago (Agar Agar), que aumenta o bolo fecal e estimula o funcionamento dos intestinos, além de dar sensação de plenitude gástrica, pois incha no estômago e diminui a sensação de fome.

Jereissati acrescenta que esses suplementos atuam de diversas formas, e são também indicados para aumentar o gasto energético; modular o metabolismo de carboidratos; estimular a saciedade; ter efeito diurético; aumentar a oxidação de gordura ou diminuir sua absorção. De acordo com a nutricionista, não é porque o suplemento é natural que ele pode ser consumido indiscriminadamente e sem supervisão especializada. “Médicos ou nutricionistas sabem que esses coadjuvantes devem ser prescritos baseados em fatores individuais, tais como o funcionamento do trato gastrointestinal, patologias associadas, histórico familiar e uso de medicamentos”, esclarece.

Genoleze observa que o mais importante na hora de escolher um nutracêutico é ter informações sobre evidências clínicas. É isso que dá suporte à sua eficiência e elucida o potencial de risco. Segundo o endocrinologista, alguns ácidos graxos como o ácido pinolênico (ômega-6), encontrado nas castanhas de pinho coreano, já tiveram suas propriedades amplamente testadas. Suas propriedades e estimulam a liberação de colecistocinina (CCK), hormônio intestinal supressor do apetite, e podem aumentar a liberação de Glucagon Like Peptide (GLP), outro hormônio que não só contribui na digestão de gorduras, mas também envia informações de plenitude para o cérebro, ajudando a comer menos.

Quando o suplemento passa a funcionar, é importante não se deixar levar pelo entusiasmo, Geloneze diz que o que funciona é um plano estratégico para o uso de suplementos durante o tratamento. Entretanto, “O paciente deve ser orientado sobre a importância de substituir o conceito de peso ideal por peso saudável”. “Isso significa que, se uma pessoa conseguir perder de 5% a 10% do peso corporal, ela já sentirá um impacto positivo em sua saúde”, conclui o especialista.

Suplementos alimentares que dizem ter propriedades emagrecedoras

- Extrato de proteína de batata (Slendesta): Parece ter efeitos no aumento da saciedade, ajudando assim a controlar a quantidade de alimentos ingeridos. Esta proteína estimula a secreção de um hormônio chamado colecistocinina (CCK), relacionado a mecanismos reguladores da ansiedade e do apetite. A Anvisa proibiu produtos com estrato de proteína de batata de fazerem propaganda, pois nenhum fitoterápico com esse princípio ativo não é registrado na agência.

- Camellia sinensis: É o chá verde/branco. Potente antioxidante. São muitos os estudos com esta erva, e alguns deles usaram grandes quantidades de chá (cerca de 2 litros/dia). Os resultados demonstraram que o consumo aumenta o gasto energético e a quebra da gordura, promovendo perda de peso corporal. Porém, alguns estudos com extrato de chá verde demonstraram que ele pode causar toxicidade hepática, especialmente quando utilizado em altas doses. Observações clínicas evidenciam perda de apenas 2 a 5% do peso corporal. Este chá é autorizado pela Anvisa como alimento, mas como alimento e não como coadjuvante de emagrecimento.

- Agar Agar (Cyamopsis tetragonolobus) e pyssilium (Plantago psyllium): São fibras solúveis que absorvem água, aumentando a saciedade e consequentemente causando menor ingestão alimentar. São bem toleradas e ajudam também no controle de colesterol e da glicose sanguínea. Aumentam o bolo fecal e estimulam o funcionamento dos intestinos. A venda é autorizada pela Anvisa, mas para venda como emagrecedor é necessário comprovar sua eficácia, é utilizado como um aditivo de alimentos industrializados

Os fitoterápicos abaixo são plantas e ervas medicinais comercializadas como coadjuvantes no tratamento da obesidade. Apesar de serem naturais, não existem estudos científicos que comprovem sua eficácia, dosagem, interações com outros medicamentos e nutrientes, além de eventuais efeitos colaterais e contraindicações

Insumos fitoterápicos que acredita-se poderem auxiliar o emagrecimento

- Garcinia cambogia Nativa da Ásia, Austrália, África do Sul e Polinésia, esta erva é conhecida pelos seus efeitos anti-inflamatórios. Parece também ajudar no processo de perda de peso, via seu princípio ativo, o ácido hidroxicítrico (HCA), que inibe o apetite em geral e também por doces, além da produção de gordura pelo organismo. Os estudos publicados não conseguiram comprovar o potencial para a perda de peso. O consumo em excesso ainda pode causar diarreia, cólica, náusea e vômito. A Pholiamagra é um insumo fitoterápico. Não se trata de um produto acabado ou medicamento registrado na Anvisa, há apenas um produto na agência registrado com esse insumo.

- Centella asiátia ou Centelha asiática Esse fitoterápico melhora a circulação e é vasodilatador, ele é utilizado em pessoas com problemas circulatórios. Acredita-se que o efeito do produto no sistema circulatório pode ajudar a prevenir e tratar celulites e gorduras localizadas. É um fitoterápico classificado como um produto com ação sobre o aparelho cardiovascular pela Anvisa, apenas para isso a Agência emitiu seu registro, deve ser consumido sob recomendação médica.

- Pholiamagra Nome científico Cordia ecalyculata vell ou Cordia salicifolia, também conhecida como Porangaba. Erva usada pelas tribos indígenas do Brasil para tratar diversas condições, desde mordidas de cobras, até perda de peso e controle da fome. A proposta é suprimir o apetite, estimular e queimar gordura localizada, potencializar o sistema imunológico. Tem ação diurética e estimulante. Não existe nenhum estudo clínico sobre a planta. A Pholiamagra é um insumo fitoterápico. Não se trata de um produto acabado ou medicamento registrado na Anvisa, não há nenhum produto na agência registrado com esse insumo.


Esses ingredientes são classificados pela Anvisa como alimentos ou novos alimentos. Os novos alimentos são os alimentos sem tradição de consumo no país ou que já sejam consumidos, mas passam a ser utilizados em níveis muito superiores aos atualmente observados nos alimentos que compõem uma dieta regular. Além disso, são considerados novos alimentos aqueles que passam a ser apresentados na nas formas de cápsulas, comprimidos, tabletes e outros similares. Mas a Anvisa alerta que os produtos com finalidade ou indicação medicamentosa e ou terapêutica não podem ser considerados alimentos ou novos alimentos.

Alimentos que prometem algum efeito no emagrecimento

- Óleo de Palma (conhecido como azeite de dendê) O óleo é extraído do fruto da palma. O uso para perda de peso surgiu após um estudo canadense de 2003. Os pesquisadores associaram óleos de palma, coco, azeitonas e linho. A perda de peso foi verificada somente nos homens que participaram da pesquisa, correspondendo a meio quilo no período de 27 dias. Para as mulheres não houve nenhum benefício registrado, portanto, não existem estudos suficientes para recomendar o uso de óleo de palma como coadjuvante do emagrecimento. É registrado na Anvisa como óleo de uso culinário, sem referência aos efeitos emagrecedores.

- Óleo de linhaça e óleo de Gergelim O produto feito com a combinação destes óleos ou o uso dos óleos individualmente tem sido indicado para acelerar o metabolismo e como fonte de ômega 3 e 6, além de ter propriedades antioxidantes. Se consumidos nas quantidades indicadas, possuem poucos efeitos colaterais, a não ser uma maior atividade intestinal. Esses óleos são considerados novos alimentos pela Anvisa (inclusive o produto Linobio é inscrito na agência com a classificação de novos alimentos e novos ingredientes), não podendo então fazer propaganda de qualquer propriedade emagrecedora ou terapêutica.


Minerais - Esses compostos são minerais que circulam normalmente no sangue e suas fontes são as frutas, verduras e legumes consumidas diariamente. Na ausência de deficiência, há risco na suplementação, que pode causar efeitos colaterais.


Minerais que interferem no emagrecimento


- Cromo Relaciona-se ao metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas, e esse seria o mecanismo de ação no processo de perda de peso corporal. Utilizado com o objetivo de melhorar a massa muscular e o rendimento do treinamentos. Estudos clínicos não conseguiram comprovar esses benefícios. E seu excesso pode causar lesões renais e hepáticas.

- Selênio A ingestão adequada de selênio é muito importante para o bom funcionamento de várias funções do organismo (tireoide, sistema imunológico, fertilidade masculina, entre outras). No entanto, vários suplementos contêm doses altíssimas do nutriente, o que não é desejável, pois pode levar à fadiga, irritabilidade, queda de cabelo, dermatite, vômitos, bem como pode aumentar o risco de desenvolver diabetes. Porém, adequados níveis no organismo contribui para a manutenção de um peso saudável.

- Magnésio Propõe-se a controlar a vontade de comer doces e carboidratos, diminuir edemas e o estresse, além de melhorar a disposição física e o desempenho na prática esportiva. O excesso de magnésio pode levar a problemas de pressão e respiração, alterações do ritmo do coração, inibição da calcificação óssea. Estudos com atletas, principalmente mulheres, demonstraram que muitos apresentam baixos níveis sanguíneos deste mineral, e a suplementação melhora o desempenho e espasmos musculares. Para os indivíduos sedentários ou atletas de recreação, sem sinais de deficiência deste mineral, não parece ajudar na perda de peso.


Proibida pela Anvisa:
Muito falada na mídia atualmente, a Caralluma Fimbriata (cactus comestível) foi proibida pela Anvisa e qualquer produto que utilize esse insumo está proibido, quer seja industrializado ou manipulado. Como nenhum produto que contenha Caralluma fimbriata encontra-se regularizado no país, tendo em vista que não há qualquer comprovação perante a Anvisa em relação à sua segurança e eficácia, a suspensão da importação, da fabricação, da distribuição, da manipulação, do comércio e do uso estabelecida pela Resolução - RE n- 5.915/2010 é válida tanta para o insumo quanto para todos os produtos que o contenham na sua composição. Alguns fitoterápicos que se diziam feitos de caralluma continham também Cloridrato de Sibutramina, medicamento controlado e que traz riscos à saúde. Esse tipo de fraude pode acontecer em fitoterápicos, quando substâncias danosas ao organismo mostrando que é preciso prestar muita atenção no produto a ser consumido para evitar grandes problemas de saúde. A Caralluma é uma espécie de cacto usado por tribos indianas para reduzir a fome e aumentar a resistência. A proposta é regular os níveis de glicose, bloquear a formação de gordura, modular o apetite, induzir sensação de saciedade, além de dar mais energia. Existem poucos estudos na literatura científica que demonstram potencial supressão de apetite, o que não influi na diminuição do peso. Recente pesquisa brasileira mostrou que ela não promove redução significativa de peso, nem mesmo da circunferência abdominal. Embora ainda sejam escassas informações sobre reações ou contra indicações, ela pode causar acidez gástrica, flatulência e constipação. A anvisa aguarda mais estudos sobre segurança e eficiência do produto para ver se é possível registrar algum produto com esse princípio ativo para a venda no Brasil.

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