quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Cura da Compulsão Alimentar - É meu problema, sou viciada em comida

A Compulsão Alimentar (CA) é uma condição que afecta milhões de pessoas em todo o mundo. Caracteriza-se por episódios frequentes de ingestão exagerada e compulsiva de alimentos. Este distúrbio, para além de ser muito mais frequente do que a bulimia nervosa, distingue-se desta porque os doentes, após as crises de CA, não tentam evitar o ganho de peso com métodos de compensação como o vómito, o uso de laxantes ou exercício físico exagerado. Os episódios são acompanhados por uma sensação de falta de controlo sobre o acto de comer e por sentimentos de culpa e de vergonha.


Comportamentos comuns a quem sofre de CA

As causas deste transtorno são desconhecidas, mas cerca de metade das pessoas estão deprimidas ou têm história de depressão no seu passado. Não está ainda claro se a depressão é a causa ou efeito da CA. Sentimentos negativos como a raiva, a tristeza, o tédio e a ansiedade são descritos frequentemente como desencadeadores de uma crise.

Alguns comportamentos e problemas emocionais são também mais comuns às pessoas que sofrem de CA. Estes incluem o abuso do álcool, a impulsividade (agir sem pensar), não se sentir responsável por si próprio, sentir-se à parte das suas comunidades (trabalho, grupo de amigos, etc.) e não compreender nem falar sobre os seus sentimentos.

Cynthia Bulik, directora do Programa de Transtornos Alimentares da Universidade da Carolina do Norte, classifica os seus pacientes em dois grupos diferentes: os que sofrem de CA desde a infância e aqueles em que a CA surge mais tarde na vida, normalmente após uma dieta extrema.


Papel dos alimentos e da dieta nas crises de CA


Embora não esteja claro o papel das dietas nestes quadros, sabe-se que, em muitos casos, os regimes excessivamente restritivos podem desencadear ou piorar o transtorno. Estar permanentemente a pensar em dieta é causa e consequência da perda do controlo alimentar. Perde-se a “inocência” ao comer. Baralham-se os sinais internos, de fome, saciedade e de prazer, que regulam a ingestão alimentar. E os culpados? Haverá culpados? A meu ver sim. Não é à toa que os alimentos mais frequentemente escolhidos pelos comedores compulsivos sejam os bolos e doces, o chocolate, as pizzas, as batatas fritas, as bolachas, as colas e os gelados, em duas palavras, a junk food. Todos alimentos hipercalóricos que justificam a tese de Deirdre Barrett, professor de Psicologia Clínica na Harvard Medical School, que diz que estes comportamentos estão, em certa medida, escritos nos nossos genes uma vez que estavamos programados para sobreviver na savana Africana, onde era necessário ingerir muita comida que era rica em fibras, mas pobre em calorias.

Por outro lado, algumas pessoas parecem ser particularmente vulneráveis ​​à junk food. Mary Boggiano, professora associada no Departmento de Psicologia da Universidade do Alabama, descobriu que todos os ratos do seu laboratório comiam as mesmas quantidades da ração padrão, mas, quando lhes apresentava bolachas oreo, alguns não mostravam qualquer interesse, enquanto outros não conseguiam parar de as comer. Boggiano descobriu ainda que a compulsão pela junk food nestes animais estimula os mesmos receptores cerebrais de prazer que são estimulados quando os viciados em drogas tomam opiáceos.

Tratamento

O tratamento da CA exige uma abordagem multidisciplinar que exige um psiquiatra, um endocrinologista, uma nutricionista e um psicólogo. O objetivo do tratamento é o controlo dos episódios de CA através de técnicas comportamentais (a psicoterapia pode ajudar o paciente a lidar com questões emocionais subjacentes) e de acompanhamento nutricional para restabelecer hábitos alimentares saudáveis. As horas das refeições e os alimentos escolhidos são importantes para diminuir a frequência e intensidade das crises. Os episódios são mais frequentes durante a tarde e noite e decorrem muitas vezes do facto destas pessoas não tomarem o pequeno-almoço (café da manhã) e quase não almoçarem. Nestes casos a nutricionista dá uma grande ajuda porque coloca regras e estabelece um plano alimentar (não é sinónimo de dieta) para o dia.

O psiquiatra poderá prescrever medicação antidepressiva que se tem mostrado eficaz para diminuir os episódios de compulsão alimentar e os sintomas depressivos.

Você não está sozinho

Por último, se acha que sofre de CA é importante saber que você não está sozinho. A maioria das pessoas que têm o distúrbio já tentou, mas não conseguiu, controlá-lo por conta própria. Procure ajuda profissional que pode começar pelo nutricionista, pelo psiquiatra ou pelo psicólogo. A boa notícia é que a maioria das pessoas que cumprem o tratamento, vencem a CA.

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