sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Só pra pensar...

As forças inconscientes da mente são muito profundas e normalmente habituais. Para navegar melhor através dos altos e baixos da vida, necessitamos saber como influênciar essas forças de nosso ser, conscientes e inconscientes, de forma sábia e gentil. Claro, isso não é facil. Não adianta só mandar, como se fosse um comandante. Pior ainda, deixar a vida nos levar! Em primeiro lugar, temos que ter abertura para aquilo que acontece dentro de nós, seja o que for. Demora para conseguir cultivar uma consciência maior dos nossos impulsos internos. Porém, o corpo e a respiração são bons lugares para começar.

O silêncio necessário para aprofundar a nossa presença pode ser prejudicado por causa de uma mente com tendência para à inquietação. Existe então uma outra qualidade que podemos cultivar na prática de meditação: a não ação.

“Sentado quieto, não fazendo nada. A primavera vem e a grama cresce por si mesma.”
- Tradução Zen

Essa poesia curta expressa uma sensibilidade para as experiências do presente. Não é preciso nascer no Japão para apreciar a qualidade da não ação descrita. O poeta norte-americano Henry David Thoreau descreveu em seu poema “Walden” essa qualidade como abertura para “O florescer do momento”:

“Só amanhece o dia para o qual estamos despertos.”

O psicólogo Oliver James definiu um tipo de doença social que aflige a classe média: affluenza - derivado da palavra em inglês para gripe, ‘influenza’. Ele diz que é o problema de se atribuir muita importância para o dinheiro, as posses, aparência física e social e a fama mais do que merecem. E ele afirma que como resultado, o povo em geral fica mais bravo e impaciente.

“O virus de affluenza cria um estado mental em que você não alimenta as suas necessidades psicológicas profundas”, explica. “A gente fica correndo atrás de tantas coisas sem noção do que está fazendo, tentando terminar de pagar a casa, trocar de carro, e sempre querendo algo novo. No fundo a frustração que a gente sente é por que não estamos alimentando as nossas necessidades. Nessa frustração reside o aumento da impaciência e da raiva”.

Certamente, a nossa cultura tem a tendência de incentivar o poder do “vencedor” sobre o “perdedor” que, infelizmente, supervaloriza o que você tem em vez de quem você é. A meditação oferece um intervalo para sentir a nossa existência e experimentar o alívio que, pelo menos durante a prática, você não precisa chegar a algum lugar, alcançar uma meta, nem manipular a sua experiência - seu dia a dia.

A capacidade de sentir o florescer do momento, com curiosidade, é uma postura de não ação. Isso não é só para as horas poéticas. Existe no valor do presente algo bem maior.

Com uma prática diária de meditação, e com uma postura da “Mente do Iniciante” podemos, aos poucos, aprender como estarmos presentes em qualquer experiência mais consciêncintes daquilo que surge dentro de nós, em vez de ficarmos presos em uma roda de reações automáticas.

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Podemos colocar duas pessoas assim, uma ao lado da outra, sentadas na mesma sala, na mesma postura, com as mesmas carateristicas externas e, depois descobrir, contra nossa expectativa, que a primeira estava cultivando, pacientemente, a consciência na sua própria respiração enquanto a outra estava planejando como iria ganhar na lotería. Bom, é um exemplo um pouco exagerado, talvez. Porém, imagino que você concordaría: aparências externas muitas vezes nos enganam.

Por causa disso, quando exploramos os benefícios de meditação – esta prática silenciosa com milhares de formas conhecidas – temos que enfrentar uma série de perguntas desafiadoras em primeiro lugar.

Se a meditação tem de fato algum benefício, será que existe - de todos os tipos de possibilidades mentais -algo mínimo que a pessoa tem que fazer para desenvolver alguns dos benefícios de longo prazo supostamente atribuídos à meditação? E se tiver, o que é? Existe pelo menos uma característica, um critério, que podemos identificar para esclarecer a diferença entre a “meditação eficaz”, vamos dizer, e qualquer outra atividade? E essa ideia de uma “meditação eficaz”, existe? Ou a meditação é só uma questão de fechar as suas pálpebras com a esperança de que, se tiver sorte, tudo vai dar certo?

Acho que é melhor lembrar que não existem respostas necesariamente definitivas dessas perguntas. Para ajudar, normalmente, são as tradições espirituais que respresentam nossas maiores autoridades sobre esses assuntos. E elas têm bastante para falar a esse respeito, especialmente aquelas do Oriente. Porém, tem que ser dito que muitas são tão envolvidas em defender o seu próprio método, que não sobra tanta energia para definir o que todas têm em comum. Talvez, precisemos buscar outras fontes de sabedoria…

Onde há um rico campo de observações é no dialogo entre essas tradições e a comunidade científica no mundo ocidental. Uma das grandes vantagens dessa parceria é que a maioria das técnicas meditativas conhecidas no mundo, estão passando por um processo detalhado (e demorado) de avaliação. Embora algumas pessoas das tradições religiosas achem que esse processo ameace o espírito dos ensinamentos originais, as decobertas e conclusões dos cientistas muitas vezes apoiam o ponto de vista básico já existente naquelas tradições. Ao mesmo tempo, preciso admitir que, sim, algo da essência está sem dúvida sendo perdida nesse processo reducionista. Mas esse é assunto para outro artigo.

Voltando para nossas questões centrais, podemos considerar a meditação na área de saúde, onde fica mais facil perceber tudo esse processo analítico em ação. A base da ciência médica é a confiança. Idealmente, tudo que entra num hospital, como um possível caminho para os pacientes, tem de passar por pesquisa. Quando os médicos consideram uma determinada intervenção em um paciente, o risco tem que ser conhecido e minimizado.

Para um programa de meditação ser aceito dentro da realidade médica, as formas e os princípios das práticas incluídas têm de passar por esclarecimentos e ser padronizados. Um hospital não é um centro de meditação, claro, e nem uma igreja. Esse processo permite que a pesquisa seja eficaz e, quando o método é aplicado em um número amplo de pacientes, os resultados vêm, pelo menos, de um programa consistente - e são os mais desejáveis, na maioria dos casos. Tudo isso facilta o processo. E, o processo de pesquisa tem uma grande vantagem para o entendimento do valor da meditação, e do seu ensino e prática também. Ele cria uma melhor imagem para nós daquilo que um determinado paciente tem que fazer, no mínimo, para maximizar a possibilidade dos resultados desejáveis.

Ainda, depois de algumas décadas dessa pesquisa, os cientístas descobriram muito pouco sobre os mecanismos que estimulam efeitos benéficos em nós quando estamos meditando. Porém, pouco a pouco, estão chegando a algumas conculsões que estão tirando o “ato” de meditar de uma neblina confusa e antiga. Podemos falar, hoje em dia, que a prática de meditação é mais sobre a qualidade da atenção que prestamos àquilo que surge em nossa experiência, do que um ato de pensar de uma determinada maneira, ou mesmo de não pensar! Em determinadas práticas talvez você vá pensar conscientemente sobre um assunto específico, porém, mais que tudo, a meditação é uma maneira de prestar atenção.

Já sabemos que não adianta falar coisas bonitinhas para uma criança se não conseguimos escutá-las na hora aproriada. A arte de criar crianças/filhos, claro, depende muito da qualidade de atenção que é dada para cada uma, em cada fase de crescimento e em cada situação. Também, a arte da meditação torna se eficaz a partir do momento em que damos para nós mesmos uma qualidade de atenção que estimula o nosso próprio desenvolvimento e saúde. Como seria esse tipo de atenção? A ciência busca identificar suas características específicas faz algum tempo. De todas que estão sendo descritas talvez a mais importante seja a percepção do momento presente.

Qual outro momento temos além deste instante?

Se formos pensar, qual é o valor de sentarmos quietos por um período de meditação se não estivermos presente? Bom, a meditação era até recentemente, associada a um estado de 'desligado'. Falávamos até em “esvaziar a mente”. A longo prazo, essas maneiras de considerar a meditação tornaram-se ineficazes. Só criam mais frustração e desapontamento.

A meditação tem seu valor quando a usamos para treinar o momento presente. Os benefícios duradoros vêm quando a nossa prática diária treina a habilidade de estarmos conscientes de nossas experiências – sejam quais forem – no momento presente, para aprendermos a responder sabiamente às situações, em vez de simplesmente reagirmos a elas de forma automática. Isso é o valor do momento presente. Gradualmente, nos permite adquirir real consciência de nós mesmos, bem como na relação com os outros, conduzindo a uma vida mais criativa, mesmo sob estresse, dor ou doença por um longo período de tempo.

Podemos elaborar mais sobre os benefícios citados das práticas que cultivam essa presença integral: a redução da ansiedade, a melhora da oxigenação no corpo e da frequência cardíaca, aumento da clareza mental, paciência e gentileza. Porém, talvez seja ainda melhor deixar você fazer uma prática para avaliar para si mesmo os benefícios:

Como meditar no momento presente

1. Sente-se com a coluna reta, perpendicular ao solo, mas sem rigidez. Abra o tórax e deixe os ombros soltos.

2. Aos poucos, achegue-se (perceba) ao seu corpo, sentindo seu peso e as sensações na sua pele.

3. Deixe seus olhos fechados (ou semifechados), relaxados, e libere qualquer tensão na testa.

4. Sinta que você está aqui e agora, neste local, neste momento.

5. Perceba o corpo inteiro e as sensações dentro dele.

6. Elabore uma intenção suave de ficar ali, por cerca cinco ou dez minutos, com as sensações de sua respiração.

7. Calmamente, deixe as sensações da respiração surgirem aos poucos, preenchendo a sua atenção. Sinta as sensações no abdômen.

8. Fique com o movimento da respiração.

9. Se a mente estiver seguindo pensamentos, preocupações, ou algo além das sensações da respiração, simplesmente aprecie tudo isso e gentilmente abra e expanda a sua atenção ao redor desses pensamentos ou preocupações, criando novamente uma consciência ampla e incluindo as sensações da respiração; o abdômen, expandindo e relaxando.

10. Novamente, volte às sensações da respiração ao abdômen.

É importante saber que você não precisa castigar-se ou reclamar quando percebe as divagações da mente. Com paciência, volte sempre à consciência ampla do corpo e à respiração, como se você estivesse treinando um cachorro pequeno a sentar numa única posição. Mesmo que sua mente divague mil vezes, traga a atenção de volta gentilmente e com paciência.

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